Eles dançam todo dia a resistência deles... O que é viver em São Paulo, o que é viver na periferia mas ir para o centro praticar... Se sentir pertencente a essa metrópole, a esse centro. Acredito que mesmo que a gente não possa ir até o Centro Cultural, a gente também tá dançando lá dentro, na mesma intensidade, na mesma pegada.

Ivo Alcântara, 2021
O treino para mim é um verdadeiro desafio porque eu prefiro muito mais treinar fora da minha casa e com outras pessoas. Treinos dentro de casa pra mim não rendem por conta de espaço, por conta de me sentir a vontade, por conta de vários aspectos. Eu gosto muito de sair, encontrar os meus amigos e treinar junto com eles. Então nesse caso, espaços como o Centro Cultural São Paulo e a Etec de Artes acabam sendo espaços de xodó assim. Espaços que eu gosto muito de estar, por conta dessa vivência, de estar treinando com outras pessoas..

Kika Souza, 2020
Se você parar para pensar tem muita coisa que acontece ali. Cada pessoa que vai dançar ali tem um motivo específico. Porque eu conheço muita gente que não tem um lugar para dançar sem ser aquele. Conheço gente da Zona Sul que vai até o Centro Cultural Vergueiro, vai até o Centro Cultural São Paulo para praticar lá porque lá é o espaço, o único espaço que tem à disposição. Paga os R$4,50 pra poder realizar a prática dele e tem gente que vai de bike e mora longe pra caramba... na Zona Norte.. então é assim, se vocês forem mapeando vão conhecer várias histórias…

Rafa Funky, 2020
Sou nascido e criado aqui em São Paulo. Vivo aqui, amo esta cidade e nunca me mudei … o máximo foi mudar para as regiões metropolitanas... Santo André e agora moro em Osasco... Nossa, olha, desde que eu me reconheço como gente eu já morei na Vila Mariana, na Vila Prudente, na Santa Cruz, Tatuapé, Vila Alpina, em Santo André, na Freguesia do Ó e agora em Osasco...
Eu comecei a usar o Centro Cultural, por que ele é um lugar de muito fácil acesso. Ele é do lado do metrô. Ele é basicamente no centro de São Paulo. Então fica muito mais fácil de você encontrar com as pessoas. E você tem uma estrutura que te acolhe, que dá para você usar, que você não precisa pagar, porque nós dançarinos... a gente precisa de uma estrutura...

Tsukasa, 2020
Antes eu ia de bicicleta, porque eu moro aqui na Liberdade. Às vezes eu ia a pé também, mas nesses últimos tempos eu estou indo de skateboard mesmo. Agora eu eu estou andando bem mais de skate aqui, que também é bem legal.

Bboy Aranha, 2020
Eu vou de bike. Eu vou da minha casa de bike até lá, porque eu não costumo pegar condução não, eu vou de bike mesmo. É um treino... já faz parte do treino também... Pego a ciclovia desde a estação Saúde até lá na Vergueiro, já vai direto. É sensacional, sensacional. Sem essa ciclovia aí eu não sei o que ia ser da minha vida, ter que ficar pegando um ônibus e um metrô, um ônibus e um metrô. Então eu vou de bike. É maravilhoso.

Bboy Endrigo, 2020
Normalmente, pelo menos na época de estudante que eu tinha vale-transporte, eu conseguia tranquilamente pegar um ônibus até o centro e do centro pegar um metrô para sair ali na Vergueiro. Só que estudante, tendo que pagar a condução, às vezes não tem o suficiente, tem que economizar. E eu fazia o que? Eu andava até a Estação de Pirituba, que dá uns 30 minutinhos da minha casa, e de lá pegava o trem. Aí fazia o itinerário Pirituba até a Luz, da Luz muda para linha azul e vai até a Vergueiro, que dá basicamente o mesmo tempo que pegar ônibus ali, descer na Paulista e ir andando. Acho que a trajetória mais longe foi descer de um ônibus até o centro e subir andando até o Centro Cultural Vergueiro. Mas tudo bem, andando é uns 30 minutinhos.

Rafa Funky, 2020
Eu passei a maior parte da minha vida em Capão Bonito... fui para São Paulo em 2017 para estudar… foi bem difícil. Só que eu me habituei, gostei, e tive que voltar pra Capão Bonito por conta da pandemia…
Ia para o CCSP de metrô e muitas vezes a pé também, porque a FPA [Faculdade Paulista de Artes] não era tão longe... agora mudou, mas antes era ali perto do metrô São Joaquim... e eu ia muito feliz andando para a Vergueiro... porque eu me sentia sabendo andar em São Paulo... Eu ia a pé para lá, mas era assim, ou a pé ou de metrô.

Mika Kuma, 2020
Em 2017 eu resolvi me jogar para cá, para São Paulo, através de um amigo que me chamou, aí eu vim. Desde então, a gente começou a trabalhar no metrô. Fazer umas apresentações no metrô. Dava para tirar um dinheiro da hora, que pagava aluguel, alimentação, só que era muito cansativo. Todo dia, todo dia. Aquele tempo em que eu ficava meio quebrado... dolorido, tinha dia em que eu não queria dançar, porque o metrô é outra gravidade... o metrô balançando. Mas depois, me adaptei e hoje em dia tiro de letra. Porém não dá não. Fui procurar um trampo registrado e fiquei fazendo trampo com dança por fora, como plano B.

Bboy Mancha, 2020
[O lugar] depende muito do dia que eu vou... e não tem dia fixo... e às vezes os lugares já estão ocupados, depende do som... se eu preciso colocar som... muitas vezes eu treino sem som, outras vezes eu preciso do som, dependendo do aluno. Então varia muito. Para mim é bom que o chão esteja liso, então eu gosto das partes lisas, mas eu já treinei até lá em cima, onde tem aquele jardim.

iris De franco, 2020
Treinava naquele vão aberto, quando podia, porque fechou. Eu treino lá em cima, no jardim suspenso. Treino ali perto da escada vermelha. E também, quando tem as práticas da galera do Hip Hop, a gente treina junto, de frente para o local onde vendem ingressos. 

Carol Nola, 2020
Tinha o baile de Zouk, na segunda feira, que eu costumava ir, achava um baile bem legal, gratuito, tinha DJ, tudo, na parte de dentro do Centro Cultural. Então era um dos pontos que o zoukeiros iam sempre pra treinar. Muita gente fazia a aula, no corredor, um pouquinho antes, e depois já ia para o baile, que era do lado. Antes de ter esse baile, começaram três casais a treinarem juntos e foi atraindo outros casais que também dançavam e aquilo foi aumentando e de repente virou um baile, com DJ, tudo, e eles tem autorização, para colocar som ali dentro e vai bastante gente.

Fe Squariz, 2020
Todo dia tem algum Bboy lá treinando. Isso é certeza absoluta. Todo santo dia vai ter um Bboy lá treinando. É raro o dia que não tiver. Principalmente no período da noite, isso antes da pandemia, das 6 até às 10 da noite... porque fecha. Às vezes a gente vai para rua e dança na rua. Às vezes a gente vai para o bar e dança no bar também, de frente para o Centro Cultural.

Bboy Endrigo, 2020
Ficamos sempre de frente para o hall das salas de teatro, todas às quintas, das 18h até o CCSP fechar, depois migramos para calçada e ficamos lá até o horário limite para ir embora de metrô, que era 23:50h.

Dil RL, 2020
A gente começava a se reunir sempre às 19h, por que era um horário que todo mundo saía dos seus trabalhos e ficava mais tranquilo. A gente ocupa aquele espaço junto aos Bboys só que mais para saída da direita. Quando dá o horário a gente vai para rua e a gente fica na rampa. Daí fica a coisa bem raíz mesmo. Dançar na rua mesmo.

Tsukasa, 2020
Com o coletivo eu usava o corredor, de preferência que tinha algum banco para eu colocar as coisas, para sentar em algum momento. Ou eu usava aquela praça que tem perto da escada, porque os vidros ali são um pouco espelhados e dá para usar. Isso é bem legal. Quando eu preciso fazer algum desenho de formação ou quando é um trabalho mais em grupo, vou para lá porque consigo ver direito, a gente consegue ver a formação mais ampla. 

Tsukasa, 2020